A ARROGÂNCIA QUE DERRUBOU O SECRETÁRIO
No Nosso humilde sentir, gerenciar
coisa pública exige amor pela causa, compromisso, inteligência, planejamento e
extrema humildade, o que nem sempre acontece nesse governo estabelecido e dos
amigos, pessoas outrora simples e solícitas, quando investidas nas altas
funções de Secretário de Estado sofrem uma incompreensível metamorfose, como a
comprovar a afirmação de Paulo Freire, que em seu livro a Pedagogia do Oprimido
verbera que todo oprimido traz em seu âmago um opressor sanguinário e
insolente, bastando surgir a oportunidade para que exteriorize esse pedante,
soberbo e presunçoso déspota.
Observei esse fenômeno que foi com
jactância incorporado e vivido pelo Ex-secretário da Administração
Penitenciária do Estado da Paraíba, Delegado de Polícia Civil Walber Virgolino,
pessoa de fácil trato, mas que picado pela mosca azul e embriagado pelo
deslumbramento do poder, igual ao plebeu do poema de Machado de Assis, que ao
deparar-se com a mosca azul, vislumbrou-se soberano de vasto império, um rei
cercado por mulheres e empregados, amado por todos, glorioso vencedor de
batalhas, ilusão que lhe custa a santidade. Como se suas entranhas pudessem
explicar o motivo de tamanha beleza, a mosca é dissecada pelo pobre carpinteiro,
que nada vê além de um inseto morto, baço asqueroso. Dizem que ensandeceu e que
não sabe como perdeu a sua mosca azul.
Tive essa impressão de que somente uma
sandice inominável poderia explicar o que ocorreu no dia 07 de setembro de
2014, na Rua Duarte da Silveira, quando vários carros pretos, lúgubres e
propositadamente fúnebres, com agentes penitenciários vestidos com temíveis
uniformes pretos e portando armas de grosso calibre, num espetáculo nazi-fascista,
exatamente quando se comemorava a independência do Brasil, desfilavam garbosa e
desafiadoramente por aquela importante avenida da nossa capital. Naquele
momento descobri que alguém estava profundamente doente, com terríveis
alucinações, delírios, miragens, devaneios, tudo isto causado pela picada da
mosca azul palaciana.
A coisa piorou, se agravou e
febrilmente, de forma quixotesca, o Secretário inebriado pelos falsos elogios
de uma imprensa reverente ao mandante de plantão, ecoou a todos os pulmões, que
a repressão a motins de presos ou rebeliões tinha que ser violenta, na base do
cassetete e de balas de borracha, para doer até sangrar, pois ali não existiam
parentes seus e nem mesmo ele estava segregado. Até aí tudo normal, se essa
ignomínia fosse discursada por alguém estranho ao sistema, mas nunca a ele que
tinha todas as regalias de um Secretário de Estado e o dever constitucional de
proteger esses homens presos, independentemente de serem criminosos hediondos
ou não, e ao se comportar dessa forma, desceu ao mais baixo nível do plebeu do
imorredouro Machado, o mestre da nossa literatura.
Walber Virgolino demonstrou despreparo
para o cargo, quando desconhece o mandamento constitucional de que críticas ao
homem público, mesmo que ácidas não constituem nenhum ilícito, mas mesmo assim,
de forma tacanha e nanica, atravessou uma ação de indenização por danos morais
contra a Conselheira Estadual dos Direitos Humanos Laura Berquó, mulher de
brios, pois determinada e comprometida com seus ideais, que é a causa da defesa
do respeito á dignidade humana, uma causa difícil, cujo defensor precisa ter
formação moral sólida, consistente, para não cair na vala comum dos covardes
que possuem na ponta da língua um discurso peçonhento de agressão às mulheres e
homens de bem que não se curvarão nunca às estultices e vitupérios dos que se
encontram em devaneios por conta da picada da mosca azul.
O Ex-secretário ao invés de resolver a
situação vexaminosa da revista invasiva, preferiu somar ao cordão de servidores
que de forma sádica entendem que a revista invasiva é também uma forma de
vingança e deixou o governo que se diz republicano no mesmo nível daqueles que de formação
direitista e conservadora, deixaram que famílias inteiras de segregados fossem
marcadas para sempre pela infamante revista invasiva e bestial.
O erro de Laura Berquó, foi fazer um comentário num humilde
texto por mim escrito, no qual afirmei que as rebeliões e motins eram dolosos,
pois, ao se nomear torturadores para cargos em comissão, a exemplo de
Dinamérico Cardin e espancador notório para direção de um presídio, só pode ser
alguém que por crueza, de forma subliminar, deseja ver a revolta despertada nos
internos, por conta de atos equivocados levados à efeito por seus prepostos, a
exemplo de psêudos atos de disciplina (raspar cabeças) que visam despertar a
ira de quem já se encontra sentenciado, bem como de proibição de visitas, de
entrega de comidas, o que como já dito, visam a despertar raiva e motins, tudo
adredemente e desapiedadamente pensado, para que a feroz repressão por tropas
de elite tivesse lugar.
O arrebatamento e encanto pelo poder
era tão inqualificável, que Walber Virgolino, ao invés de arreganhar os portões
de suas cadeias para demonstrar que nada de errado ali se praticava, chegou a
levar ao próprio governador a relação dos Conselheiros dos Direitos Humanos questionando
a legitimidade de suas nomeações, ocupando o Chefe do Executivo Estadual com
uma questão que poderia ser substituída pela apresentação de um projeto de
ressocialização, mas como ele nunca teve esse projeto, por pura incapacidade de
gestá-lo, entendia que proibir Conselheiro dos Direitos Humanos de entrar em
instituições penais seria um grande feito e sem saber, no seu pileque de poder,
perdia forças e confiança junto ao chefe maior ao ocupá-las com assuntos tão
liliputianos, questão que o CEDHPB de forma vertical enfrentou e nem sequer deu
satisfação dos seus atos a tão acabrunhante questão.
De forma que o poder desgraçadamente
subiu à cabeça do Ex-secretário, que ensandecido criava grupos repressores
dentro do Sistema Penitenciário como a dizer a outro secretário, “eu aqui tenho
outra polícia mais equipada até mesmo do que a sua e também posso reprimir e
prender, até núcleo de inteligência eu tenho, igualzinho a você” e para curar a
doença foi necessário a ministração do
antídoto da exoneração, da dispensa pura e simples, enviando-lhe de volta à
titularidade de uma delegacia de polícia, onde talvez seja despertado do
terrível torpor pelos gritos desesperados de socorro do povo, cujo ruído o
poder que lhe embriagou lhe impediu de ouvi-los há algum tempo e posa retornar
a realidade do mundo dos vivos e dos comuns.
Marinho Mendes - Conselheiro EstAdual dos Direitos Humanos
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