Governador ameaçado
Estaria o governador Ricardo Coutinho vivendo sob ameaça, intimidação ou chantagem de figuras sinistras que habitam os desvãos, porões e masmorras da ditadura que ele próprio criou?
O governador está encarcerado no medo que o impede de enfrentar as acusações de torturas em presídios que pesam contra auxiliares seus que são ex-diretores ou ainda dirigentes do sistema penitenciário do Estado?
Ou ele simplesmente se omite e se acovarda e daí não tem coragem de mandar investigar e punir quem for encontrado em culpa pelos suplícios corporais e outras barbaridades praticadas dentro nossas casas de detenção?
Questionamentos com esse tom e desse jaez (leiam adiante) foram feitos anteontem à noite diretamente a Ricardo pela advogada Laura Berquó, membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH-PB), após a morte de uma presa que teria se enforcado no Bom Pastor, o presídio feminino da Capital.
Ela questionou o governador através de mensagem eletrônica que compartilhou com outras 50 pessoas ou mais, entre elas jornalistas da Paraíba e de outros estados, a exemplo de um repórter da Folha de S. Paulo que manifestou interesse em apurar as denúncias.
Dessa vez, as denúncias que levaram Doutora Laura a fazer indagações muito duras ao soberano dizem que por não mais suportar castigos e torturas uma mulher teria se suicidado anteontem dentro do ‘isolado’ do Bom Pastor. No mesmo presídio, semana passada outra apenada teria perdido o bebê em aborto provocado por maus-tratos.
Segundo a advogada, o nome da aparente suicida como vítima frequente de torturas no cárcere já constava de documento enviado anteriormente pelo CEDH ao governador com relatos sobre atrocidades no interior do presídio feminino.
O mesmo relatório também teria apontado os nomes de quem com frequência castiga física e impiedosamente as mulheres que cumprem pena no Bom Pastor. Na própria correspondência de Laura ao governador é citada uma diretora que, informa a advogada, trataria as detentas lá recolhidas da seguinte forma:
- ... chama as presas de negras safadas, pisa na cabeça delas porque elas dormem próximo à cela porque não têm espaço. Chega bêbada e dá pisas nas presas. Deixa as presas no isolado sem água. Diz que é amiga de pessoas do seu círculo familiar, do Sen. Cássio. Segundo o Secretário Virgolino, ela não sai de lá devido às amizades que possui e que a mesma propala por aí. Segundo o Secretário, ela precisa ser amansada ou amaciada, sei lá o termo, de vez em quando. A questão penitenciária na Paraíba é tratada nesse nível.
“O senhor tem medo de que?”
Os trechos a seguir reproduzidos pertencem à carta que a Doutora Laura enviou ao governador Ricardo Coutinho.
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Prezado Senhor Governador, o senhor não recebe o CEDH-PB, não dá retornos de nada do que é levado dos relatórios... Quando o CEDH denuncia é porque tem coisas acontecendo, além das matérias bonitas que saem em jornais sobre as mentiras contadas na sua gestão sobre a queda da criminalidade, da morte de jovens negros e de tratamento humanizado no presídio, que é tudo mentira.
O seu governo é igual aos outros. A Paraíba é um estado que se destaca pela mediocridade de seus governantes, pela omissão de seus políticos, todos, sem exceção. A única voz que ainda se ouve é de Luiz Couto, que também andou um tempo sumida depois que passou a apoiá-lo, mas que agora parece estar recobrando a razão e voltando a fazer denúncias.
Por que o sr. não resolve os problemas e as denúncias que são feitas? Qual o problema? O senhor tem medo de que? Quais as ameaças que o sr. recebeu desse pessoal? O sr. precisa de ajuda da gente do CEDH-PB? Quem o está intimidando para que o sr. não faça nada? Ou, então, o que o sr. deve a esse pessoal? Por que se for isso, cuidado! Quem com porco se junta, farelo come...
Mais uma vez o governo silencia
Também pedi esclarecimentos ao governador Ricardo Coutinho e mais uma vez fiquei sem respostas. Eis a mensagem que enviei para o endereço de i-meio do governador (ricovc@terra.com.br):
- Senhor Governador, que providências o senhor determinou em relação às denúncias contidas nas mensagens? O senhor admite estar sendo ameaçado ou chantageado pelas pessoas ou grupos denunciados? Considera razoável a suspeita de que a sua atitude é de omissão ou medo de enfrentar esses grupos e pessoas apontados por crimes dentro do sistema carcerário? Caso queira, designe algum auxiliar de sua confiança para prestar os esclarecimentos aqui solicitados. Fico no aguardo e antecipo que abordarei o assunto na coluna que escrevo diariamente no Jornal da Paraíba.
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Diante de toda a tristeza que as denúncias e os questionamentos de Laura traduzem e encerram, concluo que o governador do Estado vive realmente sob ameaça muito séria e grave. Por inoperância, omissão ou leniência, o que for, ele está mesmo ameaçado de jamais reencontrar a sua própria história, se continuar desse jeito.
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