Desgostos de Agosto

HOutro caso que me causa desgosto nesse início de agosto, ocorreu na sexta-feira, dia primeiro do mês, quando acompanhei um grupo de militantes ao Presídio Bom Pastor e comigo compareceu aquela casa de detenção o também conselheiro de Direitos Humanos, Marinho Mendes Machado. Todos aguardamos pela chegada da Diretora. A Sra. Diretora chegou com seu cachorrinho branco de raça no colo, dizendo as senhoras que a Secretária da Mulher, Dra. Gilberta Soares, havia ligado pra ela: “Gilberta me ligou”. Em alto e bom som para que eu e Marinho Mendes ouvíssemos. No mesmo tom pessoal que costuma dizer às apenadas que nada contra ela acontecerá, mostrando fotos com o Governador, com o Senador Cássio, dentre outras figurinhas. Cumprimentou a mim e a Marinho, com aquele jeito próprio como de quem diz: “vocês denunciaram e não deram em nada”, aquela gentileza forçada e ao mesmo tempo arrogante de quem quer dizer que apesar de termos feito nosso trabalho era ela quem mandava lá, ainda que as queixas de apenadas com relação a xingamentos continuem. Agora entendo, porque no III COEPIR a Secretária disse que eu era especialista em inventar coisas, de forma irritada, porque reclamei que a moção de repúdio a Direção do Bom Pastor e ao Secretário da SEAP estava encontrando dificuldades em sair, pelas torturas que Adriana Paiva sofria, além de ser chamada de “negra macaca”. Afinal, a Conferência era sobre Promoção da Igualdade Racial. Mas saiu a moção. Não sei de onde ela tirou isso, porque ela não me conhece, diferente da Diretora do Presídio, que exibe orgulhosamente essa proximidade. Também nesse mesmo dia conheci uma apenada, uma senhora, que foi permutada pela apenada Andrea Costa. Por denunciar torturas e outras coisas no Bom Pastor, Andrea foi transferida para Patos sem saber o porquê, e no meio do caminho, na altura do Serrotão, levou uma surra de agentes masculinos. Isso foi após o resultado da sindicância fajuta da SEAP. Pelo menos o nosso barulho sobre a sindicância fajuta serviu para afastar o então presidente das sindicâncias, porque apesar de ser um bom escritor e bom piadista, não dava para a função. A senhora que veio transferida de Patos reclamou que sofre por conta da distância de sua família. Não sabe por que veio pra cá e seus familiares de Cajazeiras, apesar de fazerem um esforço para irem a Patos quando estava cumprindo pena lá, hoje dificilmente podem visitá-la. A Justiça da Paraíba é a única que tem aplicado essa pena de “degredo” para algumas apenadas para evitar que suas bocas grandes possam continuar incomodando. Mas no mês de agosto, o que me causou mais desgosto foi conversar com apenadas e perguntar por que elas estão lá, e a maioria em coro diz: “33”. A maioria é presa portando drogas para seus companheiros, com o direito de promover a SEAP em espetaculares shows que rendem notícias naqueles jornais de 50 centavos. Eu pergunto: Se essas mulheres estão sendo obrigadas pelos seus companheiros a levarem drogas, se existem mulheres que são obrigadas a esconder drogas em suas casas a mando do dono da boca, para não perderem seus filhos, ou ainda usuárias, que traficam para manter o vício, essas mulheres não estão sendo revitimizadas com a cadeia não? Onde está um projeto de segurança pública e de proteção de mulheres que vivem em zonas de risco? O que fazer com uma mãe que vê seu filho de 09 anos aviãozinho do chefe da boca ou sua filha de 12 anos dormindo com um traficante dono do negócio? Onde está o Poder Público para evitar que no futuro essas mulheres sejam presas e ao questioná-las elas digam: “33”. Onde estão as casas de desintoxicação? Onde está a proteção efetiva às mulheres que se envolvem em relacionamentos destrutivos porque no meio em que vivem é o melhor partido que podem ter? Eu peço as feministas que abracem essa causa: a de exigirem políticas para essas mulheres que lotam os presídios quando na verdade precisam de ajuda para saírem dessa vida e não serem no futuro chamadas “carinhosamente” de “Piconas” pela Direção
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