domingo, 24 de agosto de 2014

PRESIDENTE DUTRA, ISTO, AQUILO O OUTRO
 










MINHAS ALVISTAS

Este era um costume da Dutra. O povo de lá gostava de ir para São Paulo capital e passava muito tempo sem vir, pois se voltasse logo era um fraco, um derrotado. Quando vinha a passeio suas casas se enchiam de parentes e amigos, que tocados de saudades, não deixavam o “paulista” sozinho, nem para tomar banho, queriam porque queriam saber notícias dos parentes que moravam na capital bandeirantes, assim como, as notícias paulistanas que eram poucas, pois nossos patrícios eram humildes, moravam nas periferias e não tinham acesso ao luxo e nem ao poder paulista, os quais escutávamos apenas pelas Ondas Largas da Rádio AM Bandeirantes e sonhávamos que aquilo tudo era acessível a quem fosse até lá, o que era uma grande ilusão transformada em decepção quando os baianos simplórios e atrasados desciam na Rodoviária do Glicério na capital Paulista, uma rodoviarizinha de interior, onde nossos conterrâneos começam a sofrer o preconceito paulistano, bichos nordestinos, tinham que desembarcar era num chiqueiro mesmo e para tanto, destinaram a Rodoviária do Glicério, uma coisa horrível para que os ônibus da Empresa EMTRAM pudessem deixar a carga que traziam dos carentes sertões baianos.
Pois bem, essas pessoas sofriam no pesado durante anos e anos, não podiam voltar, só os fracassados não ficavam em São Paulo e tinham que agüentar todo tipo de opressão, até que um dia, não mais agüentando a saudade dos parentes e da terra, vinham passar uns dias com os seus. Na nossa cidade não tinha rodoviária, o ponto final do ônibus era em Irecê e aí, chegando fora de hora e com os dinheiros contados, tinha o nosso chegante, já amanhecendo o dia, que alugar um carro para trazê-lo até Presidente Dutra e quando entrava na cidade, ou era visto ainda em Irecê por algum conhecido, este não se apresentava, vinha correndo na frente até à casa do “paulista” e gritava MINHAS ALVISTAS, FULANO TÁ NA TERRA e aí a família tinha que dar um prêmio ao anunciante pela boa e bela notícia, pois seus corações entravam em festa de tanta alegria pela chegada do ente querido.
Creio que ALVISTAS seja uma corruptela de TERRA À VISTA, expressão muito utilizada pelos marujos, que cansados e doentes da permanência no mar, ao sentirem que se aproximavam dos continentes gritavam felizes e festejantes: TERRA Á VISTA, TERRA À VISTA e todos se abraçavam e comemoravam.
Entendo que o mais acertado seria dizer FULANO À VISTA, pois vista com crase significa o que está diante dos olhos, bem nas suas vistas, bem ali, anunciando a boa nova, a chegada “paulista presidentinos” que retornava à Dutra após longo período de escravidão em terras do Sul, como diziam, quando na verdade eram em terras do rico sudeste.
Após receber a notícia a família mandava um emissário urgente na Praça do Comércio para comprar fogos de artifícios (foguetes), também cuidava em matar várias galinhas, pois assim que o “sulista” chegasse seria anunciado festivamente com fogos de artifício e recebido com uma deliciosa galinha de capoeira, assim como os primeiros vizinhos que chegasse, também degustaria a saborosa penosa.
Como tudo nesta vida é passageiro, acho que esse costume todinho nosso não existe mais, mas eu esse tempo era bom, ah, disto não tenho nenhuma dúvida.
Os “sulistas de São Paulo” traziam gravadores e gravavam nossas vozes, era impressionante, como um aparelho daqueles repetia igualzinho nossas vozes, era o comentáros dos mais velhos.
Porém, os gravadores geraram muitas mal querenças, pois parentes de pessoas que tinham a voz gravada e divulgada para outras pessoas não gostavam, já que consideravam a iniciativa como um deboche, uma gozação, uma ironia contra seus parentes e chegaram mesmo a quebrar gravadores dos nossos paulistas, que após dias de Dutra deixavam de ser novidades e eram tratados como pessoas comuns. O sucesso era rápido.
Os “paulistas Presidentinos faziam sucesso com as meninas, namoravam e muitos noivavam e depois voltavam para casar, tenho uma prima de apelido “Gorda”, que esperou o noivo Fábio de Onésimo durante 13 (treze0 anos, isto mesmo, 13 anos, namoravam por carta e Gorda nunca olhou para outro rapaz e era extremamente feliz com Fábio, de forma que casaram e vivem até hoje apaixonados.
Os paulistas vinham equipados com reluzentes relógios da cor de ouro, eram lindos, eu sonhava com um daqueles e dizia, quando eu crescer vou embora para São Paulo e vou comprar um relógio deste e um óculos também, já que os “Paulistas Presidentinos” também traziam vistosos óculos Ray ban, tipo aviador, causando inveja nos pobres presidentinos, que sonhavam com aqueles luxos fora dos seus alcances, sem contar as radiolas de mão e a pilha, que faziam a sensação, pois o “Paulista Presidentino” “rico” e muito orgulhoso, fazia tocar o dia e a noite para os presentes os sucessos de Tonico e Tinoco, Jacó e Jacozinho, Zilo e Zalo e Teixeirinha e outros, bem como o sucesso imbatível d Léo Canhoto e Robertinho..
De forma que quem foi a São Paulo naqueles tempos e mesmo quem não foi, viveu uma doce ilusão, o sonho da riqueza, do luxo e do poder que nunca viram, mas eram exercitados a troco de muitas mentiras e de muitas bugigangas, já que tinha “Paulista Presidentino” que dizia que São Paulo era o lugar de ganhar dinheiro e que estava bem de vida, mas que passados 15 dias de sua estada na Dutra, tinham que vender o gravador, o relógio e os óculos para poderem voltar.

MEUS ABRAÇOS DE HOJE:

Zé de Pedro Elias, Isaías (Baé), Gi de Zé Velho, Uerson de Nissão, Suelma de Nissão, Judite de Nissão e o Galego de Nissão, Marinho, Pedro, Miguel, Cassimiro de Odilonzinho, Vilson de Hermenegildo, Chute de Irani de Hermenegildo, Orlandão de Ivani de Izidoro Velho, aos paulistas Raimundo de Maria de Martinha, meus irmãos Zé Mendes, Roberval e Olindina, que não mais vivem a ilusão paulistana, ao meu irmão Daladier, que Deus o conforte neste momento de extrema dor, tão grande dor, a Vilson e Miguel meu irmãos, a Dr. Ivan Carlos machado, a João de Antero, a Jotão, pai de Rivelino, a Laércio de Mirão, a Joelzinho de Lionides, a Filho de Mané Doce, a Lié, Linda e Dalva de Zé Elias, a Dr. William, a Didi de Colinha, nosso grande agrônomo, a Vera de Morena, a Odezinho, a Virgínia de Odésio, a Maria Núncia, 

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