sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


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A coluna é basicamente uma crônica política, que se diferencia da análise política clássica por não se prender ao factual nem à ordem ou pauta do dia. Contato com o colunista: rubensnobrega@uol.com.br

Enriquecimento ilícito

Digamos que tenha sido de R$ 6,5 mil líquidos, na média, a sua renda mensal nos últimos oito anos.
Agora, vamos supor que desse dinheiro você não tenha tirado um centavo sequer para comer, vestir-se, ir ao cinema, comprar um remédio vez por outra ou abastecer o carro vez em quando num posto de gasolina, além de comprar ou pagar outros tantos produtos e serviços que pessoas normais consomem.
Bem, se durante todo esse tempo você livrou o salário todinho a cada mês, real por real, não bulindo nele nem pra dar trocado a flanelinha, adjutório ao santo da devoção na missa ou dízimo que o pastor lhe cobra no culto, então, amigo, amiga, você apurou e juntou nada menos que R$ 624 mil.
E se lhes disser que com essa baba tem gente em nossa cidade que consegue comprar por R$ 1 milhão e 200 mil, à vista, no dinheiro, cobertura de prédio ou mansão em condomínio residencial fechado, horizontal, entre os mais chiques que ocupam vastíssimas áreas desmatadas para conforto da mais fina burguesia que hoje habita o Altiplano do Cabo Branco?
Muitos de vocês vão dizer que isso não é possível, que ninguém consegue tamanha proeza sem que tenha tirado sozinho alguma mega sena acumulada ou obrado o milagre da multiplicação dos cobres.
Afinal, seria humana e financeiramente impossível alguém que ganha R$ 6,5 mil por mês em média adquirir um imóvel daquele preço. Salvo, é claro, se toda a grana foi investida no mercado de capitais ou em aplicações financeiras que renderam uma dobra igualmente miraculosa durante o período.
Coberturas e mansões em geral não são para o bico de assalariados, mesmo se forem razoavelmente bem remunerados com salário mensal no patamar do exemplo dado. Mesmo se forem auxiliares de primeiro escalão de governo municipal ou estadual na Paraíba.
Mas se alguém aí duvida da façanha de tão portentosa aquisição é porque não conhece os poderes que muita gente boa adquire ao chegar ao poder.

Epitácios se multiplicam
Já lhes falei outro dia de um sujeito assim, o Epitácio, servidor de nível médio de repartição federal, que caiu nas graças do ‘home’, frequenta o círculo mais íntimo do poder, passa ou passou por cargos de certo relevo nas administrações públicas que temos e vem fazendo invejável patrimônio imobiliário.
Se volto ao assunto hoje é porque lembrei que semana passada, durante confraternização pré-natalina, estive num estupendo apartamento de amiga que mora no Altiplano e aí, conversa vai, conversa vem, um dos circunstantes perguntou se haveria um apê daqueles (um por andar) ainda não vendido naquele prédio.
- Tinha a cobertura, mas foi vendida há pouco mais de três meses para uma figura exponencial da Prefeitura. Um milhão e duzentas milhas. No pau. Ela só não está morando ainda porque resolveu fazer uma reforma. Pelo tempo, deve ser uma hiper reforma. Já ouvi vizinho dizendo que é negócio pra mais de R$ 150 mil, fora os móveis.
Fiquei bestificado, talvez com alguma inveja, admito, ao tomar conhecimento da existência de mais um Epitácio (ou Epitácia, porque não digo que sim nem não, mas posso estar me referindo a um ente feminino). E fiquei com a sensação, de razoável proceder, de que os Epitácios são bem mais do que sonha a nossa vã filosofia.
A derrota das virtudes
Deixei a confraternizando tentando imaginar quantos do mesmo nível e naipe dos Epitácios não estariam ocupando ou próximos de ocupar alguns dos mais vistosos cargos públicos da Pequenina.
Pior veio depois, porque a partir daquela revelação senti-me tristemente convencido de que estamos perdendo quase todas as batalhas das virtudes contra os vícios.
Nessas derrotas, identifico protagonistas que há pouco nos entusiasmavam com sua disposição de luta por um mundo menos injusto ou mais igual, movidos por uma militância que a gente tinha na conta de pura, sincera e, sobretudo, incorruptível.

Como diria Gilberto...
“É muito doloroso ver companheiros se enriquecendo”, teria dito o ministro Gilberto Carvalho (Casa Civil) sobre “escândalos de corrupção nos governos petistas”, na interpretação do jornalista Cláudio Humberto, conforme publicou ontem na sua coluna, neste Jornal.
Lendo apressadamente a frase, por um momento pensei que o ministro estivesse se referindo a antigos militantes de esquerda que por aqui ascenderam ao poder, ocuparam ou ocupam cargos públicos de relevo e não conseguem disfarçar inexplicáveis patrimônios como os relatados acima.
Numa cidade de muro baixo como a nossa, queriam o quê? Impossível esconder que o empoderamento de certas figuras faz do poder público instrumento de escandalosos processos de enriquecimento ilícito

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