CONDEPE
DENUNCIA LISTA DE MORTE DA ROTA
Medo
de violência já faz mães tirarem filhos de São Paulo
PMs
estariam perseguindo jovens da periferia que já tiveram algum problema com a
Justiça. Condepe denuncia lista da morte da Rota
Artur Rodrigues, de O Estado de
S.Paulo
A onda de violência na periferia mudou radicalmente
a vida da faxineira Maria (nome fictício), de 43 anos. Um de seus filhos, de
17, foi morto em julho por agentes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
(Rota), durante ação em uma favela na região de Sapopemba, zona leste. Após
outro filho ser ameaçado por policiais e ficar sabendo que teria sido incluído
em uma lista de futuras vítimas, ela mandou o rapaz morar em outra cidade.
A situação de Maria não é única. Só na zona leste
paulistana há pelo menos dez perseguidos, segundo informações do Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). A situação se
repete na Região Metropolitana de São Paulo. Há dois meses, o filho mais velho
de Maria, de 24 anos, pegou algumas peças de roupa e saiu de casa na surdina,
no meio da madrugada. Só assim, segundo ela, policiais da Rota pararam de ir
até sua residência para amedrontá-la.
“Já tinham espancado ele no meio da rua e falado
que só não mataram porque tinha muita gente”, afirma Maria. “Depois, eles
vinham aqui no meio da noite, colocavam farol na minha cara e falavam que
tinham achado uma moto do meu filho. Ele ficava escondido e eu falava que ele
não tinha moto nenhuma, mas eles sempre voltavam.”
O primeiro filho foi morto em um barraco, com duas
pessoas. Policiais da Rota alegaram que o trio trocou tiros. Na favela, porém,
todos dizem que só os PMs atiraram. Afirmam que os boinas pretas cumpriram a
promessa que fizeram uma semana antes: matariam a todos se encontrassem gente
usando drogas. Testemunhas dizem ter visto, depois dos tiros, PMs chegando com
uma sacola com armas e drogas, que depois foram apresentadas como sendo dos
mortos.
Ao ver o carro cinza da Rota pelas ruas da região,
Maria fica em pânico. “Não paro de tremer. Ainda tenho dois filhos pequenos
vivendo comigo e tenho medo de deixá-los sozinhos e eles virem aqui.”
Tristeza. Em casa, Maria tenta preencher o vazio
deixado pelo filho mais novo assistindo a um DVD com fotos dele, feito pela
namorada. “Podia ser tudo mentira. Aquele corpo ser um boneco de cera e ele
aparecer no carro da reportagem de vocês”, suspira, emocionada.
Do filho mais velho, mata a saudade pelo telefone.
Na quinta-feira passada, tinha uma mala vermelha, pronta para enviar ao
interior, com gel de cabelo, catchup, marmelada, xampu, desodorante. O rapaz
trabalha como faxineiro e mora de favor com a namorada na casa de uma tia.
Desconfiado, não quis muita conversa por telefone. “A polícia está matando
demais, demais…”
A educadora Sônia (nome fictício), de 42 anos,
também relata perseguição por parte de PMs da Rota. Segundo ela, o filho já foi
detido por tráfico de drogas, mas hoje trabalha como motorista e não teria dado
nenhum motivo para ser procurado por policiais. “Abordaram o vizinho e disseram
para ele que meu filho estava em uma lista. Depois, ficaram rondando a minha
casa”, relata Sônia. “Tentei convencê-lo a sair de casa, mas meu filho diz que
não deve e que vai ficar.”
A conselheira do Condepe Cheila Ollala acompanha a
situação de várias pessoas que estão sendo perseguidas pela polícia, assim como
os filhos de Maria e de Sônia. “Temos outro caso de um menino que teve de sair
da cidade pelo mesmo motivo”, diz, sem dar detalhes sobre a vítima. O critério
para entrar na tal lista da morte seria ter no histórico pessoal qualquer
problema com a Justiça.
O advogado Ariel de Castro Alves, vice-presidente
da Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), diz que foi procurado por mães da região do ABC paulista. “A
perseguição de pessoas por parte de policiais, simplesmente porque têm
antecedentes criminais, pode configurar os crimes de abuso de autoridade e
ameaça”, diz.
A PM afirma que as denúncias são graves e pede para
que as vítimas se apresentem à sede da Corregedoria para prestar queixa.
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