Relatório do CEDH aponta que aldeia da Paraíba tem venda de drogas e prostituição
Membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) realizaram uma
visita na última quarta-feira (10) à aldeia Brejinho, localizada no
município de Marcação (distante 66 quilômetros de João Pessoa) e
constataram falta de segurança e péssimas condições de estadia dos
índios no litoral norte da Paraíba. Um relatório foi feito e divulgado
na tarde desta segunda-feira (15).
Participaram da visita o Procurador da República, Duciran Farena; o
Promotor de Justiça, Marinho Mendes; a advogada Laura Berquó; as
professoras da UFPB, Nazaré Zenaide e Fátima Fernandes; e o
representante da Funai, Benedito Rangel. Eles foram convidados para
prestar solidariedade à família do cacique Geusivã Silva de Lima,
assassinado no dia 31 de julho deste ano.
De acordo com o documento, os indígenas relataram problemas
generalizados de insegurança na área, inclusive a existência de pontos
de venda de drogas e funcionamento de bares onde se explora a
prostituição. Ainda segundo o relatório, a escola "funciona
precariamente em uma casa mal conservada, com goteiras, infiltrações,
portas quebradas e piso deteriorado". Os membros ainda costataram que
as obras de uma nova escola estão paralisadas.
Por fim, os conselheiros foram convidados pelo Cacique Bel -
responsável pela área - para conhecer uma área de reflorestamento com
espécies nativas mantida pela Aldeia Três Rios, em áreas de preservação
antes utilizadas pelas usinas para plantio de cana.
Confira relatório na íntegra:
Na manhã do dia 10 de agosto de 2012, em viaturas fornecidas pela
FUNAI e Ministério Público Federal, os membros do Conselho Estadual de
Direitos Humanos e Núcleo de Direitos Humanos da Universidade Federal
da Paraíba dirigiram-se à Aldeia Brejinho, situada no Município de
Marcação (PB), a fim de prestar solidariedade e apoio aos familiares do
Cacique Geusivã Silva de Lima, assassinado em 31 de julho do corrente
ano. Existe inquérito policial em curso no Departamento de Polícia
Federal da Paraíba a respeito do caso.
Duciran Farena, Procurador da República e Conselheiro, assegurou aos
familiares que está acompanhando de perto a condução do inquérito, com
o Delegado responsável e que todas as medidas possíveis serão adotadas
para que seja concluído o quanto antes, possibilitando a punição aos
autores do bárbaro crime. A conselheira Laura Berquó ofereceu o apoio
da Ordem dos Advogados do Brasil aos familiares. O Promotor Marinho
Mendes sugeriu ações de segurança integradas com o Ministério Público
Estadual local.Juntamente com o Cacique Geral Potiguara Sandro e outras
lideranças presentes, foi discutida a insegurança nas aldeias
indígenas. Sandro reiterou as reivindicações da comunidade acerca da
necessidade de ronda policial na área, e o reforço da patrulha rural
existente, que é insuficiente para atender a todas as 32 (trinta e
duas) aldeias existentes na Terra Indígena Potiguara. Reclamou
segurança para os familiares do cacique assassinado. Outros indígenas
relataram problemas generalizados de insegurança na área, inclusive a
existência de pontos de venda de drogas e funcionamento de bares onde
se explora a prostituição, mantidos por não indígenas nas aldeias.
Segundo informações, a polícia nada faz para coibir estas atividades.
O procurador Duciran Farena informou que estas reivindicações foram
apresentadas a autoridades pelo Grupo de Segurança Indígena, criado
após o crime e que está se reunindo periodicamente com a Secretaria de
Segurança e a Polícia Federal, mas que ainda não foram atendidas, tendo
a primeira recuado de sua promessa inicial de reforçar a patrulha. Por
sua vez, a Polícia Federal afirmou não ter atribuição legal para fazer
rondas.
Em seguida, os conselheiros foram convidados a conhecer uma obra
paralisada de responsabilidade da Secretaria de Educação do Estado, o
futuro prédio da Escola Estadual Indígena Antônio Sinésio.A escola –
que iniciou este mês o Programa Mais Educação – funciona precariamente
em uma casa mal conservada, cujas salas apresentam diversos danos que
afetam a qualidade da educação (goteiras, infiltrações, portas
quebradas, piso deteriorado) além da falta de qualquer sala de apoio
para atividades administrativas ou complementares. Quando chove são
obrigados a suspender as aulas.
O novo prédio (que possui duas salas sem acabamento que são
aproveitadas ocasionalmente à falta de qualquer outro espaço)
encontra-se abandonado. A construção começou há três anos e ainda está
longe de ser concluída. Em plena quarta-feira não havia sequer um
trabalhador ou vigia no local. Materiais de construção são expostos ao
relento em qualquer parte, representando um risco para os alunos. Não
há nenhuma placa no local indicando a construtora responsável pela
obra, valores ou prazos de conclusão.
Segundo a direção da escola, na festa de celebração do Dia do Índio
(19 de abril passado) o governador teria prometido concluir a obra em
três meses. No entanto, a construção encontra-se paralisada e sem
previsão de conclusão. A má qualidade da estrutura salta aos olhos e,
possivelmente, parte dela se encontra comprometida, havendo visível
infiltração de água nas lajes das salas.
Por fim, os conselheiros foram convidados pelo Cacique Bel para
conhecer uma área de reflorestamento com espécies nativas mantida pela
Aldeia Três Rios, em áreas de preservação antes utilizadas pelas usinas
para plantio de cana.
Foram plantadas mudas de pau-brasil, ipê, pau d´arco e outras
espécies provenientes de um viveiro mantido pela própria comunidade,
sem o apoio de qualquer órgão ambiental. No entanto, as mudas sofrem
com ação predatória de indivíduos que frequentam a região para fins de
caça e pesca, os quais provocam frequentes incêndios.
Os poucos remanescentes de mata que escaparam à depredação das
usinas também sofrem com a extração ilegal de madeira, atividade cujos
restos visíveis são facilmente avistados no início da trilha conhecida
como “Trilha da Camboa”.
3 – RECOMENDAÇÕES
1- A Secretaria de Segurança do Estado da Paraíba deve cumprir a
recomendação de reforçar imediatamente a Patrulha Rural, dotando-a de,
pelo menos, três viaturas e, pelo menos, quinze homens para assegurar a
vigilância, a realização de rondas frequentes e o atendimento de
ocorrências em toda a Terra indígena Potiguara;
2 – A Polícia Federal e a Secretaria de Segurança do Estado,
conjuntamente, devem fornecer proteção para a família do falecido
Cacique Geusivã, mantendo no local vigilância policial constante, até
que o inquérito relativo ao caso seja concluído.
3- A Polícia Federal deve priorizar o andamento das investigações
relativas a ocorrências na Terra Indígena, em especial o da morte do
Cacique Geusivã, empregando todos os esforços e recursos para que
cheguem a bom termo com a identificação dos responsáveis.
4– A Polícia Federal deve, ouvidas as lideranças indígenas, e em
conjunto com as polícias civil e militar, enviar equipes para promover
o fechamento de bares e identificação dos pontos de drogas e exploração
da prostituição nas aldeias;
5 – A Secretaria de Educação do Estado deve adotar providências para
que sejam retomadas imediatamente as obras do novo prédio da Escola
Estadual Antônio Sinésio, em Brejinho, a fim de que esteja concluído
até o final do ano, reparando as falhas estruturais verificadas, e,
após a conclusão, implantar equipamentos como biblioteca, refeitório
com mesas e cadeiras, cozinha com fogão, geladeira, freezer e armários
vedados, sala de informática e salas de apoio para a administração.
6 – Os órgãos ambientais IBAMA e ICM-BIO (administração da Área de
Proteção Ambiental do Rio Mamanguape) devem fornecer apoio técnico para
o projeto de reflorestamento da Aldeia Três Rios, inclusive fornecendo
placas de advertência, eventuais reposições, cercamento e vigilância
intensificada na área.
7 – IBAMA e Polícia Federal devem investigar os desmatamentos na
Trilha da Camboa, buscando informações junto ao Cacique Bel, de Três
Rios, sobre possíveis responsáveis e realizando diligências frequentes
na área para coibir queimadas e cortes ilegais.
Pe. João Bosco do Nascimento
PRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS
Duciran Van Marsen Farena
CONSELHEIRO RELATOR DA VISITA
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Blog Mari Fuxico
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